Carros & Mobilidade
Como saber se está cansado demais para dirigir?
- Créditos/Foto:DepositPhotos
- 31/Janeiro/2025
- Autor Convidado
*Por Sidnei Canhedo // Enquanto para alguns férias é tempo de descanso, para outros é momento de enfrentar longas horas pelas desafiadoras estradas brasileiras. Em meio a essa quebra de rotina, é comum sentir-se lento mesmo depois de uma boa noite de sono. Além disso, sem terem conhecimento, diversas pessoas sofrem de insônia ou apneia.
Há muitas maneiras pelas quais a nossa saúde e segurança podem ser comprometidas, seja por insuficiência, seja por má qualidade na arte de dormir. Os efeitos desse quadro, quando misturados ao volante, podem ser trágicos.
De acordo com recentes dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes de trânsito resultam na morte de aproximadamente 1,19 milhão de pessoas em todo o mundo a cada ano, e deixam entre 20 e 50 milhões de pessoas com lesões não fatais.
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Parte significativa desse drama é provocado por sonolência, cansaço e fadiga, um trio que embora seja usado, erroneamente, de forma intercambiável, são bem distintos entre si. Entenda:
- Cansaço
É um sintoma físico ou mental que está diretamente relacionado ao esforço realizado ao longo do dia. É aquela sensação de desconforto sentida ao realizar uma atividade física muito intensa. É algo pontual.
- Fadiga
É um sintoma médico de um desgaste que pode ser físico ou mental e que vai além do simples cansaço. A pessoa acaba não tendo energia para realizar atividades corriqueiras, sentindo uma imensa necessidade de repousar ou com sintomas como dores de cabeça.
- Sonolência
É um estado perigoso logo antes do início do sono, em que o corpo está realmente lutando para permanecer acordado. Estar nessa fase ao volante, na qual concentração e tempo de reação são severamente afetados, pode ter consequências mortais.
Como saber se está cansado demais para dirigir?
Se a pessoa dirige longas distâncias para o trabalho, ela compreende que a maneira como se sente no início de uma viagem em comparação ao final – ou mesmo ao longo do caminho – pode mudar drasticamente. Portanto, mesmo que ela esteja se sentindo bem no início, logo poderá se sentir cansada e entrar em uma zona de risco ao volante. Veja condições que impactam a condução:
- O perigo de conduzir à noite
Dirigir em horários em que o corpo está naturalmente programado para dormir é uma luta contra o relógio natural do corpo. Os trabalhadores que cumprem turnos noturnos são especialmente suscetíveis a sentir-se sonolentos no trabalho e até mesmo durante as viagens de ida ou volta à empresa.
- Qualidade do sono da noite anterior
Os principais estudos relacionados à quantidade mínima que o corpo precisa para se recompor apontam para 6 horas, sendo o ideal entre 7 e 8 horas por noite. Isso significa que, se a pessoa dormiu menos de 6 horas, ela deve, prudentemente, evitar o volante.
Se o percurso for o de um trajeto de longa distância no dia seguinte, a recomendação é preparar a casa na noite anterior, formando um ambiente propício para uma ótima noite de sono, além de evitar refeições pesadas e o consumo de bebidas alcoólicas.
- As chamadas ‘dívidas’ de sono são reais
Uma pessoa pode acumular diversas horas em débito. Infelizmente, estudos recentes concluem que não há uma receita eficaz para repor esse déficit e nem há a garantia de que uma hora não dormida pode ser matematicamente compensada. O fato é que as dívidas de sono se acumulam e as ‘cobranças’ podem aparecer justamente quando a pessoa estiver ao volante.
- Longos percursos e rotas frequentes são gatilhos de fadiga
Muitos quilômetros de estrada podem se tornar chatos e monótonos, e se não houver nada que prenda ativamente sua atenção, como outros carros, pessoas, ciclistas e semáforos, a fadiga se apresentará.
Da mesma forma, rotas frequentes, percorridas diariamente, podem deixar a pessoa excessivamente confortável, sem que se envolva ativamente com o que está ao seu redor, atraindo a sonolência ao motorista.
- Batalha perdida
Não há como lutar contra o sono. Não importa quantas xícaras de café a pessoa possa beber, quão alto aumente o volume do rádio ou quantas janelas do carro estarão abertas. Eventualmente, o sono vencerá.
Mas como identificar o risco ao volante?
A verdade é que, muitas vezes, somos incapazes de determinar com precisão o quão cansados estamos. Não apenas por não conseguimos identificar os sintomas, mas também por uma certa autonegação e teimosia irresponsáveis.
No intuito de proteger vidas, indústrias e governos caminham para tirar essa decisão do autodiagnóstico das mãos dos próprios motoristas e estão apostando em tecnologias de monitoramento de sonolência e fadiga, com sistemas cada vez mais avançados.
A mais eficaz delas está aplicada a um óculos sem fio capaz de medir o movimento das pálpebras de um motorista a uma taxa de 500 vezes por segundo, coletando dados que são automaticamente processados em um software que tem como referência a escala de sono australiana chamada de JDS. Ela gera, em tempo real, uma nota entre 1 a 10 de risco incluindo índices de microssono. O sistema é utilizado em caminhões de mineradoras em um ambiente fechado e controlado.
Já para carros de passeio, ônibus e caminhões que circulam em locais abertos e em longas distâncias, há câmeras de monitoramento que também apresentam bons resultados de eficiência, tanto que, este ano, todos os veículos novos na União Europeia já estão, obrigatoriamente, saindo de fábrica com equipamentos que fazem a leitura do estado de alerta do motorista.
É possível que, em um futuro próximo, com os avanços da Inteligência Artificial e com a tendência dos governos de serem mais rigorosos, o sistema de controle de segurança dos veículos não permitirá que alguém com sono ou fadiga assuma o risco de sentar à frente do volante. Será uma evolução que resultará em uma redução significativa de acidentes graves e fatais nas ruas e estradas de todo o mundo.
*Sidnei Canhedo é mestre em Saúde Ambiental e gestor da Optalert, biotech australiana especialista mundial em tecnologia de controle de fadigas
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