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O que o Brasil tem a aprender com o Vale do Silício?

*Por Alexandre Pierro // O cenário de inovação no Brasil se mostra cada vez mais desafiador.

Dados do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), que seguem os parâmetros metodológicos da OCDE  (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), para permitir uma comparação internacional, apontam que estamos em marcha ré. Enquanto isso, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, o ritmo é de aceleração total.

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Em vez de nos posicionarmos como eternos vira-latas, é muito mais produtivo espiarmos o que dá certo por lá e pode ser replicado por aqui.

Um país com dimensões continentais como o Brasil, certamente, tem muito a oferecer ao mundo. Obviamente, desde que sejam feitos ajustes de políticas públicas, mas, principalmente, de mentalidade do empresariado brasileiro.

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Um dos abismos mais notórios entre o Brasil e os Estados Unidos no que tange a inovação diz respeito à educação. Embora várias referências na área, como Steve Jobs, Mark Zuckerberg e Bill Gates, tenham abandonado as universidades, é preciso deixar claro que eles não são a regra, e sim a exceção.

Além disso, eles sempre buscaram se cercar dos melhores.

O Vale do Silício está rodeado pelas universidades mais consagradas do mundo, como Stanford, Universidade da Califórnia e California Institute of Tecnology (Caltech). Isso faz com que a região tenha profissionais de altíssimo nível à disposição. No Brasil, também temos ótimas universidades, embora elas ainda não sejam acessíveis a toda a população.

Como consequência, o número de doutores vem caindo substancialmente em nosso país. A média despencou de 24,4 mil, em 2016, para 20,7 mil, em 2021, segundo o MCTI. Para mudar essa trajetória, é preciso investir em educação, permitindo que novos talentos surjam em nossos bancos escolares.

Outro aspecto bastante relevante é que os Estados Unidos são uma nação formada por imigrantes. Por lá, é possível ver pessoas das mais diversas etnias trabalhando juntas. Ao contrário do que possa parecer, as barreiras existem e não são apenas de comunicação, mas principalmente de cultura.

Por isso, é comum os profissionais receberem treinamentos a fim de compreenderem os pontos fortes e fracos de cada nacionalidade com o objetivo de gerar um melhor resultado para todos. Brasileiros costumam ser vistos como ágeis, criativos e resolutos. Características que podemos observar, especialmente, nas pequenas iniciativas empreendedoras em nosso país.

Embora em proporção menor, o Brasil também dispõe de muitos imigrantes. O número de estrangeiros vivendo por aqui aumentou 24,4% entre 2011 e 2020, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Atualmente, existem cerca de 1,3 milhão de imigrantes residentes no país, principalmente uruguaios, venezuelanos e haitianos.

Por mais que seja uma parcela pequena da população, cabe destacar que, devido à nossa ampla extensão geográfica, é possível notar muitas diferenças culturais dentro do próprio país. A alta taxa de migração, principalmente para os estados da região Sudeste, representam uma importante oportunidade de troca entre os brasileiros.

Compor um mix com esses profissionais é fundamental para formar times mais heterogêneos e capazes de inovar. Essa mistura evidencia que diversidade está longe de ser uma questão apenas de gênero, classe social ou orientação sexual, conforme muitas empresas vem pregando. Empresas diversas são compostas por pessoas de lugares, hábitos, crenças e preferências bastante diferentes.

Um terceiro aspecto que o Vale do Silício deixa como lição ao Brasil é a capacidade de investir. Enquanto lá a ordem é ousar e correr riscos, aqui, a máxima pede cautela. Com medo de construir o novo, nossas empresas fazem investimentos tímidos em inovação, buscando manter uma postura muito mais de seguidor do que de líder.

O investimento na área caiu de R$ 95,3 bilhões, em 2019, para R$ 87,1 bi, em 2020, de acordo com o MCTI. A queda mais significativa foi na indústria, que reduziu seu investimento em R$ 9 bilhões.

Isso significa que, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), o investimento total caiu de 1,21% para 1,14% no período. Com isso, não tem sido raro o descontentamento de profissionais da área que se veem obrigados a conquistar resultados exorbitantes com recursos cada vez mais pífios.

Contudo, ainda mais prejudicial que os baixos investimentos é a falta de cultura e processos bem definidos para a inovação.

Desenvolver uma mentalidade que busca retornos no longo prazo e está preparada para cometer erros calculados faz toda a diferença para quem pretende inovar. Uma ideia é só uma ideia, se não for testada e a aprimorada ao extremo. E, elas não costumam ter valor nenhum se não forem capazes de resolver um problema de quem está disposto a pagar pela solução.

Felizmente, algum progresso vem sendo sentido neste aspecto, especialmente com a publicação da ISO 56002, uma metodologia de padrão internacional que apoia empresas de todos os portes e segmentos a estabelecerem uma governança para a inovação, elencando importantes pilares de cultura, direcionamento estratégico, riscos e principalmente métricas para acompanhar o desempenho da companhia.

Ao todo, mais de 600 empresas no mundo já adotaram esse modelo, sendo dezenas no Brasil, com resultados cada vez mais expressivos.

Em suma, embora nosso país ainda não esteja no nível do Vale do Silício, nada nos impede de nos tornarmos um grande polo de inovação mundial no futuro. Ao investir em educação, diversidade, cultura e processos, teremos todos os ingredientes necessários para exportar produtos e serviços inovadores ao mundo. Criatividade, disposição e força de vontade nunca faltaram por aqui. Afinal, o melhor do Brasil sempre foi o brasileiro.

*Alexandre Pierro é mestrando em gestão e engenharia da inovação, bacharel em engenharia mecânica, física nuclear e sócio fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina.