33Giga Tecnologia para pessoas

Games

Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos é game gratuito para crianças; veja como jogar

  • Créditos/Foto:Divulgação / UFScar
  • 25/Fevereiro/2022
  • Da Redação

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) lançou um jogo digital baseado na narrativa mítica do povo indígena bororo “As araras e seu ninho”. O game, gratuito e destinado a crianças de 5 a 9 anos, pode ser acessado em www.leetra.ufscar.br/pages/game_jeriguigui.

O jogo Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos conta, ainda, com um tutorial () especialmente elaborado para possível utilização em salas de aula de Educação Infantil e do Ensino Fundamental I.

Leia mais:
Os 50 melhores jogos para videogame de todos os tempos
Dos consoles para as bilheterias: games que se tornaram filmes
Os 25 videogames mais vendidos de todos os tempos

Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos

Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos foi criado pelo Grupo de Pesquisa Leetra – Linguagens em Tradução da UFSCar, que desenvolve projetos relacionados à questão indígena. O grupo é vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenado por Maria Sílvia Cintra Martins, professora sênior do Departamento de Letras (DL) da Universidade.

O roteiro do jogo foi desenvolvido pela professora com base principalmente no mito M1 bororo: “O xibae e iari” (“As araras e seu ninho”). Ele se encontra nas páginas 57 a 59 do volume “Mitológicas 1: O cru e o cozido”, de autoria do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, que desenvolveu pesquisa no Brasil na década de 1930.

“Essa narrativa mítica trata da vingança empreendida pelo pai de um jovem indígena, que teria cerca de onze anos estando prestes a participar de um ritual de iniciação. O pai faz com que o jovem passe por vários desafios, até largá-lo no alto de uma encosta onde poderia ter se submetido à morte, seja por inanição, seja atacado por animais selvagens, mas o jovem supera todos os desafios e consegue voltar para a aldeia”, conta Maria Sílvia Martins.

Quer ficar por dentro do mundo da tecnologia e ainda baixar gratuitamente nosso e-book Manual de Segurança na Internet? Clique aqui e assine a newsletter do 33Giga

Fases de Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos

Ao avançar nas fases, o jogador se depara com elementos da narrativa bororo e vivencia os desafios enfrentados pelo protagonista Jeriguigi.

“A história de Jeriguigui envolve o comportamento punitivo de seu pai, que o obriga a passar por três desafios que poderiam ter sido mortais, se não fosse a interferência de sua avó materna. Não satisfeito, o pai exige que Jeriguigui vá capturar ararinhas na encosta de uma montanha, e puxa a escada deixando o menino indefeso e sujeito a dois grandes problemas: o encontro com os gaviões-de-cabeça-vermelha, que lhe dão muitas bicadas, e o encontro com o jaguar, a onça-pintada, com quem faz um tipo de barganha”, detalha a docente da UFSCar.

Nome do jogo

O título Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos enfoca dois termos específicos da linguagem indígena. A professora da UFSCar explica que o nome Jeriguigui aparece no mito com a referência ao grupo ou clã ao qual o menino indígena pertencia, o clã do jabuti.

“No mito M7 ‘Kayapó-Gorotire: origem do fogo’, que utilizei de forma complementar, a onça ou jaguar possui o papel de ser quem fornece o fogo para os indígenas. As narrativas míticas dos povos indígenas brasileiros funcionam muitas vezes de forma complementar, de modo que podemos encontrar num mito elementos que completam o outro e que também fazem parte dessa outra cultura”, explica.

“Escolhido o mito, transformei-o em roteiro rico em diálogos em que inseri vários animais – alguns em extinção – que vão fornecendo diversas informações sobre os indígenas brasileiros, suas línguas e suas culturas. Juntamente com seis pesquisadores do Grupo de Pesquisa Leetra, gravamos as falas dos personagens que depois foram legendadas.

O próximo passo foi o trabalho do desenhista Hugo Cestari e de uma empresa especializada em jogos, que transformaram meu roteiro em belas imagens, em que os diálogos são acompanhados de jogos e desafios envolventes para crianças de cinco a nove anos, para quem o jogo foi idealizado”, complementa a docente. Toda a montagem do jogo contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp – Projeto 2019-07879-4).

Escolas

Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos está disponível na versão do Windows – para computadores, notebooks e tablets – no site www.leetra.ufscar.br. Há a previsão, para os próximos seis meses, do lançamento das versões iOS e Android.

“Na hora de baixar o jogo, sugerimos que professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I baixem também um texto de 40 páginas elaborado por mim, que se encontra no mesmo espaço e traz orientações e sugestões para sua utilização em sala de aula em projetos de letramento interdisciplinares”, orienta Maria Sílvia Martins.

A docente da UFSCar tem realizado um trabalho junto a escolas para divulgar e implantar o jogo: “Venho me propondo a conversar e orientar professores de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I que, após lerem o tutorial, se interessem de fato na implementação do jogo com seus alunos”. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail [email protected].

Sobre o povo indígena bororo

Segundo Maria Sílvia Martins, que pesquisa a cultura e a língua de povos indígenas no Brasil, os bororos detêm, hoje em dia, seis Terras Indígenas (TIs) demarcadas no estado do Mato Grosso, num território descontínuo que corresponde a uma área 300 vezes menor do que o seu território tradicional, que antes atingia a Bolívia, parte do estado de Goiás e do Mato Grosso do Sul.

Na década de 1970, o alto grau de insatisfação dos bororo fez surgir um movimento pela recuperação de suas terras tradicionais e pela melhoria dos serviços de saúde e educação. Houve, em 1976, a luta pela terra do Meruri, que culminou no famoso massacre levado a cabo pelos fazendeiros do general Carneiro. Atualmente, a Língua Bororo, que pertence ao tronco linguístico Macro-Jê, é falada por quase toda sua população.