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Seria Baleia Azul apenas um jogo controlado por robôs?

Baleia Azul é um jogo que surgiu na Rússia, mas que tem causado comoção nas redes sociais e repercussão na mídia  mundial. Isso porque está relacionado a uma suposta onda de ações suicidas. Grupos de pesquisadores e jornalistas de sites “tira prova”, porém, defendem que a ligação do game com o suicídio não passa de uma lenda urbana que, por retroalimentação, acabou funcionando como fator de crescente popularização do jogo.

Como lendas urbanas modernas, a história se alastrou rapidamente e tem em seu enredo vários clichês dignos de séries de terror “tipo B”. Entretanto, parece que a trilha inventada pode estar servindo de inspiração para ações reais, com mortes e mutilações, mesmo que isoladas. Um ponto ainda não comprovado é se há ou não a participação de pessoas utilizando a história para induzir outras a cometerem suicídio. Mas e se o Baleia Azul fosse apenas controlado por robôs?

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Imagine que o “curador” do jogo, a pessoa que envia tarefas por mensagens aos participantes, fosse, em vez de um humano, uma inteligência artificial agindo a partir de um chatbot. Os chatbots são uma emergente modalidade de código robotizado capaz de simular o diálogo de um ser humano com alto nível de semelhança. Considerando-se esta hipótese, o Baleia Azul estaria inaugurando uma nova era dos incidentes de segurança. Isso porque a tecnologia estaria afetando de forma direta o comportamento do ser humano.

De acordo com Thiago Zaninotti, CTO da empresa especializada em segurança digital Aker N-Stalker, o padrão de comunicação utilizado pelos curadores do Baleia Azul é perfeitamente compatível com os atuais chatbots. “Os robôs utilizados para finalidades criminosas, em geral, dispõem de recursos poderosos de autoaprendizado e são movidos por algoritmos de engenharia social. Embora relativamente sofisticados, eles estão se tornando cada vez mais corriqueiros nas estratégias de atração e engajamento de vítimas por parte do cibercrime”, comenta.

O Baleia Azul possui um menu fixo de 50 desafios que cada usuário deve obedecer em uma ordem igualmente repetitiva. “Entre as tarefas estão se cortar com uma lâmina, assistir a um filme de terror e fazer voto de silêncio por um dia. Tecnicamente falando, são ações de baixa complexidade. Compreende um número pequeno de variáveis, passíveis de serem semanticamente mapeadas em esquemas de ação e reação bastante restritivos”, conta Rodrigo Fragola, CEO da Aker N-Stalker.

Segundo Fragola, a criação de um chatbot para as finalidades propostas pelo Baleia Azul seria algo tão simples e banal quanto implementar um assistente robótico para apoiar a venda de passagens aéreas ou para sugerir modelos de calçados adequados ao estilo de um consumidor previamente perfilado. Sendo assim, existe uma considerável possibilidade de haver robôs no lugar de “gurus humanos” orientando os participantes do game.

A teoria se torna ainda mais assustadora ao constatar que, desde o aparecimento do Baleia Azul, apenas uma pessoa foi identificada e presa sob a acusação de agir como curador. O julgamento de um romeno de 21 anos vem sendo sistematicamente adiado por falta de provas de seu envolvimento, segundo reportam fontes como a ONG NetFamillyNews e a entidade SafeNet da Bulgária.

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Chatbots no Twitter
O Baleia Azul foi revelado pela mídia internacional em 2015. Na época, a Rússia teve cerca de 130 suicídios de adolescentes relacionados ao jogo. Já no Brasil, ganhou repercussão recentemente, após a morte de uma jovem de 16 anos em uma represa de Vila Rica (MT). O caso estaria supostamente ligado ao game, já que a menina tinha cortes na coxa e nos braços e deixou cartas que indicariam a participação dela no desafio.

Desde seu aparecimento, o Baleia Azul e sua origem estão envoltos em um nível de mistério típico dos instrumentos hackers. Segundo os especialistas da Aker N-Stalker, os chatbots podem identificar pessoas nas redes sociais que seriam alvos ideais na propagação de spam. Para abordar suas vítimas, o sistema cria falsas “personas” com afinidades sociais bem definidas e preparadas para interagir com internautas dispostos a novos relacionamentos (ou jogos) e abertos a aventuras.

Para exemplificar a força e veracidade desse modelo automatizado, Fragola menciona um trabalho acadêmico realizado no Brasil por pesquisadores da UFMG junto ao Twitter. “Depois de analisar milhares de perfis de pessoas comuns, os pesquisadores criaram 120 chatbots imitando o comportamento dos usuários. Em 30 dias, eles conquistaram mais de 3 mil seguidores. Inclusive com grande sucesso em postagens retuitadas por usuários humanos”, revela o CEO da Aker N-Stalker.

Se o Baleia Azul for, realmente, fruto de um chatbot, ele trará à tona a capacidade da computação manipular as massas. “Está na hora da sociedade e da comunidade de segurança começarem a refletir sobre este fato. A corrida em busca de tecnologias para detectar, destravar e perseguir a origem desse tipo de ataque deve mobilizar todo o setor. Mas só com muita educação adequada às novas realidades é que poderemos aumentar o nível de segurança das crianças e adolescentes na internet”, conclui Fragola.

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